Como você é um caleidoscópio
E eu sou ávido observador
Tão apaixonado pelas incógnitas
Pelos desafios de padrões inusitados
Tão ingênuo, bobo e solitário
Caio feito pipa em vento torto
À terra da qual me ergui
Me emaranho na copa de uma ávore
Me embaraço e despedaço
Só de em relance te encontrar
E venho buscando sua face
Sua apaixonante, delicada, suplicante
Só para te ouvir gemer "amor"
Pedindo por mim tão mansinha
Tão quieta, tão escondidinha
E giro, te giro, me giro, gira, giramos
E as cores mudam e os padrões dão cambalhotas
Eu me contorço, você se espicha e divide
Multiplica, reflete, repite
E se apresenta labiríntica
Humana e armada, mais máquina que fada
E se torna um caminho de armadilhas
No qual caio e me esfolo
Desesperadamente me encolho e desconsolo
Onde estão os vitrais da catedral do seu peito
Na qual você me batizara com amor
E jurara carinhos para meus medos
E abraços para meus desesperos
Onde você abrira as portas e eu levara o altar?
E giro, me gira, te gira, gire, giramos
Qual é agora o plano?
Cores quentes caleidoscópicas me convidando
Tal qual mariposa embriagada de luz
Me lanço, me escorro, enlaço e engarrancho
Esperaçoso de repousar em paz no seu colo
E ter a chance de te amar sem me ferir
Se você não fosse Janos
Ou melhor,
Se eu não fosse um semi-deus quebrado
Sem espada, sem escudo, sem cajado
Corneta ou cinturão
Nu e esperante
Diante de você
Minha esfinge, minha pirâmide
Que se fez senhora das minhas vontades
E da minha triste desolação
Se eu não fosse de fumaça
De pó e cinza e tarde
Porque uma moeda não se despe de uma face
E as suas eu pude amar, mas não sustentar
Acuado, dolorido e apavorado
Não me equivoque ou desentenda
O dedo de apontar se volta para mim
Ainda que a raiva seja, em parte, para você
Mas são meus ombros fracos
E meu coração agoniado
Meu queixo trêmulo
E meus lábios molhados
Que se sentiram por tempo demais sobrecarregados
Meu caleidoscópio, feitiço encantado
Dona do selvagem urbano
E ainda do meu amor assustado