o outono me entristece
faz eu me lembrar de quando criança
o sol frio tardajeiro dourando a poeira nas árvores e no pasto
posso até sentir o cheiro
do empoeirar fino
e do café doce de vó com bolinho de chuva
cadeiras de plástico branco na varanda apertada
olhando o dia terminar
o dia esfriar
eu toda suja de terra com o cabelo emaranhado
cheiro de menina com couro e cavalo
num brincar aventureiro pelas estradas e pelos matos
andava sozinha, e me lembro
de sentir o mundo tão grande e eu tão pequena
as árvores caladas
os trilhos apertados
me lembro de esperar e desejar
uma aventura, um alguém
para ir comigo nas ideias e nos caminhos
lembro de ser sozinha
e de a noite parecer grande e estreita
porque nos metia dentro de casa
e o que eu tinha eram as histórias de vó e de vô
uma camisa jeans grossa pra tampar o sereno que vó me emprestara
e um céu-incógnita
estrelado
o outono me entristece
pelos frios solitários
e dias desolados
por eu sentir tanta falta
de um abraço